M. I. Kalinin
Camaradas: Há 20 anos, precisamente a 2 de outubro de 1920,
Lênin pronunciou um discurso sobre a educação comunista no III Congresso da União das Juventudes Comunistas da Rússia. Dirigindo-se ao
Komsomol,
Lênin disse que era pouco provável que nossa geração, educada na sociedade capitalista, pudesse levar a cabo a edificação da sociedade comunista. Essa tarefa deveria tocar à juventude.
Pois bem: Hoje, quando aplaudíeis, recordei involuntariamente essas palavras e me ocorreu pensar que diante de mim encontram-se esses antigos jovens do
Komsomol, essa geração a que se dirigia
Lênin. E que esses jovens, já convertidos em adultos e com uma experiência da vida, participam ativamente da edificação socialista. E uno meus aplausos aos vossos para louvar precisamente a vós, os edificadores do socialismo.
Em nosso país se presta muita atenção à educação comunista. Não é em vão que a palavra “educação” se destaca nas colunas de nossa imprensa.
Não obstante, se pretendemos dar uma definição relativamente clara e concisa do que é em geral a educação, tropeçamos com dificuldades consideráveis. Não poucas vezes se confunde a educação com o ensino. É claro que a educação tem muita semelhança com o ensino, mas de modo nenhum são sinônimos. Certos pedagogos autorizados consideram que a educação é um conceito muito mais amplo que a instrução. A educação tem suas particularidades.
Em meu entender, a educação consiste em exercer uma ação determinada, sistemática e com um objetivo definido sobre a psicologia do educando, com o fim de inculcar-lhe as qualidades desejadas pelo educador. Parece-me que esta definição (que naturalmente não é obrigatória para ninguém) abarca em termos gerais tudo o que entendemos por educação, a saber: inculcar uma determinada concepção do mundo, uma determinada moral e certas normas de convivência humana, forjar determinados traços do caráter e da vontade, criar certos hábitos e certos gostos, desenvolver determinadas qualidades físicas, etc. A educação constitui uma das tarefas mais difíceis. Os melhores pedagogos a consideram tanto uma ciência como uma arte. Referem-se à educação escolar, que, está claro, é relativamente limitada. Mas, além desta, existe a escola da vida, na qual se verifica um processo ininterrupto de educação das massas, onde o educador é a própria vida, o Estado e o Partido, e o educando, milhões de pessoas adultas, diferentes umas das outras por sua experiência política. Essa educação é muito mais complicada.
Vou falar hoje precisamente dessa educação, da educação das massas.
I
Em seu livro “Anti-Dühring”,
Engels diz:
“... os homens, seja consciente ou inconscientemente, tiram suas ideias morais, em última instância, das condições práticas em que se baseia sua situação de classe: das relações econômicas em que produzem e trocam seus produtos... A moral tem sido sempre uma moral de classe; ou justificava a dominação e os interesses da classe dominante, ou representava, quando a classe oprimida se tornava bastante poderosa, a rebelião contra essa dominação e defendia os interesses do futuro dos oprimidos”.
Assim pois, na sociedade de classes nunca existiu nem pode existir uma educação que esteja à margem ou por cima das classes.
Na sociedade burguesa, está impregnada até à medula da hipocrisia e dos interesses egoístas das classes dominantes e tem um caráter profundamente contraditório, que reflete os antagonismos da sociedade capitalista.
O ideal dos capitalistas é que os operários e os camponeses sejam uns servos submissos que suportem sem protestar o jugo da exploração. Partindo dessas considerações, os capitalistas não quiseram desenvolver nos operários e camponeses o valor e a intrepidez, não quiseram dar-lhes a menor instrução, pois é mais fácil dominar gente atrasada e embrutecida. Mas com essa gente não se pode alcançar a vitória nas guerras de conquista, e esse mesmo povo, sem conhecimentos elementares, não pode trabalhar nas máquinas. A concorrência entre os capitalistas, nas condições do progresso técnico, a corrida armamentista, etc., por um lado, e por outro a luta dos operários e camponeses por sua instrução, obrigam a burguesia a proporcionar aos trabalhadores pelo menos algumas migalhas de conhecimentos; e as guerras de rapina a obrigam a inculcar-lhes valor, firmeza e outras qualidades perigosas para a burguesia.
Nenhum sistema de educação burguesa pode fugir a essas contradições.
Pois bem; apesar dessas contradições que, como já disse, residem na própria natureza da sociedade burguesa, as classes dominantes levam a cabo uma luta desesperada para subjugar as massas populares, utilizando para isso todos os meios, desde a repressão aberta até ao engano sutil.
Na sociedade burguesa, o trabalhador encontra-se, desde o berço até à sepultura, submetido à influência constante das ideias, sentimentos e hábitos que convêm á classe dominante. Essa influência se exerce por inúmeros canais e adquire às vezes formas mal perceptíveis. A igreja, a escola, a arte a imprensa, o cinema, o teatro e diversas organizações, tudo isso serve de instrumento para levar à consciência das massas a ideologia burguesa, sua moral, seus hábitos, etc..
Tomemos, por exemplo, o cinema. Referindo-se às películas norte-americanas, um diretor cinematográfico burguês escreve:
“Muitas das películas modernas constituem uma espécie de narcótico destinado a pessoas que se acham tão fatigadas que só desejam sentar-se numa fofa poltrona e serem alimentadas a colheradinhas”.
Tal é a essência da educação burguesa.
A essa educação, elaborada durante séculos e destinada a fortalecer a posição da classe capitalista dominante e a conseguir que os oprimidos se resignem à sua situação, o Partido Comunista — o destacamento de vanguarda do proletariado — opõe seus princípios educativos dirigidos em primeiro lugar contra o domínio da burguesia e a favor da ditadura do proletariado.
II
A educação comunista difere radicalmente da educação burguesa não só no que diz respeito a seus objetivos, o que se compreende sem necessidade de demonstração, mas também por seus métodos. A educação comunista está indissoluvelmente ligada ao desenvolvimento da consciência política e da cultura geral e à elevação do nível intelectual das massas. Este é o objetivo visado por todos os partidos comunistas.
Apesar de o objetivo final de todos os partidos comunistas ser o mesmo, apesar disso, e sendo a situação da classe operária na União Soviética diferente da situação dos trabalhadores nos países capitalistas, a educação em nosso país deve corresponder precisamente a essas condições diversas. A classe operária é em nosso país a fôrça dominante e dirigente tanto no aspecto material como no espiritual.
“A classe que dispõe dos meios de produção material, dispõe também, em virtude disso mesmo, dos meios de produção intelectual.
“Os indivíduos que formam a classe dominante possuem, ademais, uma consciência e, em virtude disso, pensam; e como exercem seu domínio precisamente como classe e determinam toda uma época histórica dada, torna-se evidente que exercem esse domínio em todas as esferas, isto é, que dominam também como seres pensantes, como produtores de ideias, regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e isto significa que suas ideias são as ideias dominantes da época”.
Não se pode dizer o mesmo da classe operária de fora da União Soviética.
Para nós a educação comunista se concebe sempre dum modo concreto. Em nossas condições, ela deve estar subordinada às tarefas que se apresentam ao Partido e ao Estado soviético. O objetivo principal e fundamental da educação comunista é proporcionar a máxima ajuda à nossa luta de classes.
Vejo que isto vos causa um pouco de estranheza, que quereis perceber o sentido da tese: educar no povo o afã de prestar a máxima ajuda à luta de classes em nosso país, em um país onde as classes exploradoras foram liquidadas. A meu ver, neste caso não se requer esclarecimentos especiais. Bastará recordar-vos a magnífica resposta dada pelo camarada
Stálin ao
Komsomol Ivanov.
“... Uma vez que não vivemos numa ilha — escrevia o camarada
Stálin —, mas “em um sistema de Estados”, grande parte dos quais mantém atitude hostil para com o País do Socialismo, com o consequente perigo duma intervenção e duma restauração, nós proclamamos franca e honradamente que a vitória do socialismo em nosso país ainda não é definitiva”.
Os acontecimentos deste último ano confirmaram praticamente, com fatos concretos, as ideias expostas na resposta do camarada
Stálin.
É verdade que nossa luta de classes tem formas diferentes da luta de classes que se desenvolve fora da URSS. Eu diria que é uma luta de classes que se elevou a um grau superior, que seus resultados positivos são mais eficazes. Mas, naturalmente, também é muito mais complexa.
A tese de
Marx e
Engels de que “as ideias da classe dominante são as ideias dominantes”, no que se refere à classe operária da União Soviética obriga-nos a muito. Não podemos limitar-nos simplesmente a uma crítica do regime burguês. O fundamental agora é a luta pelas realizações práticas em todos os aspectos da política, da economia, da cultura, da ciência, da arte, etc. Está claro também que a educação comunista deve desenvolver-se em nosso país nesse sentido.
III
Quais são as tarefas que nos propomos hoje em dia como fundamentais no campo da educação comunista? São essas tarefas baseadas em novos princípios, em comparação com os princípios daquelas de que falava
Lênin, faz vinte anos, no
III Congresso do Komsomol?
Está claro que a situação na União Soviética mudou consideravelmente em todo esse tempo. Mas no fundo, as tarefas da educação comunista apresentadas por
Lênin há vinte anos continuam sendo de atualidade em nossos dias.
Não seria demais que essas tarefas fossem recordadas com maior frequência aos que querem representar de maneira abstrata os traços da sociedade comunista. esses aficionados de “teorizar”, de matutar “profundamente” sobre os traços peculiares do homem do futuro, associando o comunismo a um porvir nebulosamente bom, essa gente leva também à mesma abstração o problema da educação comunista. Em meu entender, isso não é penetrar no futuro, mas dedicar-se a adivinhações.
Camaradas, a elevada produtividade do trabalho é um dos fatores mais importantes da edificação comunista e uma arma poderosa nas mãos dos trabalhadores da URSS para sua lula contra o capitalismo.
Lênindizia:
“A produtividade do trabalho é, em última instância, o mais importante, o decisivo para o triunfo do novo regime social. O capitalismo conseguiu uma produtividade do trabalho sem precedentes sob o feudalismo. E o capitalismo poderá ser e será definitivamente derrotado porque o socialismo consegue uma nova produtividade do trabalho, muitíssimo mais alta... O comunismo representa uma produtividade do trabalho mais alta, em relação ao capitalismo, obtida voluntariamente por operários conscientes e unidos que têm a seu serviço uma técnica moderna”.
Eis aqui, camaradas, no que se deve pensar e do que se deve falar; esta é a orientação que se deve dar antes de tudo à educação comunista: lutar por uma elevada produtividade do trabalho.
Mas acaso esta maneira de apresentar a questão, esta orientação prática da educação comunista é, digamo-lo entre nós, algo de minha própria seara? Não, camaradas, não se trata de algo de minha própria seara.
Quando, ao preparar-me para o informe, tracei-lhe mentalmente o esquema, recorri às fontes principais e, em primeiro lugar, à
nossa Constituição. Em seu artigo 12 lemos:
“O trabalho na URSS é, para todo cidadão apto ao mesmo, um dever e uma questão de honra, de acordo com o princípio: “Quem não trabalha, não come”.
Na URSS aplica-se o princípio do socialismo: “De cada um, segundo sua capacidade; a cada um, segundo seu trabalho”. E vós mesmos sabeis, camaradas, que a Constituição não é só a expressão jurídica dos direitos e deveres dos cidadãos, mas também um poderoso fator para a educação do povo.
Este artigo da Constituição nos fala diretamente da grandeza do trabalho. E compreende-se: já faz tempo — como assinalou o camarada
Stálin — que em nosso país está se produzindo uma transformação radical na atitude dos homens para com o trabalho. A emulação socialista “faz com que o trabalho, que era considerado como uma carga vergonhosa e pesada, se converta numa questão de honra, numa questão de glória, numa questão de valor e heroísmo”. Este fato encontrou na
Constituição sua expressão brilhante, sua expressão stalinista.
Poder-se-ia objetar-me que uma coisa é a grandeza do trabalho em nosso país e outra, a luta por uma elevada produtividade do trabalho. Não, camaradas, não há tal diferença. A própria apresentação da questão da grandeza do trabalho implica também na necessidade de estimular por todos os meios a elevação da produtividade do trabalho. E isto é o fundamental.
Estão dirigidas para a realização dessa tarefa medidas tão importantes do Partido e do Poder Soviético como o estabelecimento do título de “Herói do Trabalho Socialista”, a instituição da Ordem da “Bandeira Vermelha do Trabalho” e das medalhas “Pelo Trabalho Heroico” e “Pelo Trabalho Destacado”. Além disso, o Poder Soviético e o Partido condecoram com frequência os que se destacaram de modo especial no trabalho com uma distinção tão elevada como é a “Ordem de Lênin” ou com as ordens da “Estrela Vermelha” ou do “Emblema de Honra”. '
O alto título de “Herói do Trabalho Socialista” se equipara ao de “Herói da União Soviética”. esse título, assim como as ordens e medalhas, não se concede simplesmente pelo trabalho, nem pelo mero fato de a pessoa trabalhar, mas por ter conseguido altos índices na produtividade do trabalho, por conseguir excepcionais êxitos na luta por uma maior produtividade do trabalho.
Este mesmo fim é visado pelo decreto do Presídium do Soviet Supremo da URSS de 26 de junho de 1940.
Exteriormente parecem duas coisas diametralmente opostas: por um lado, a concessão do título de “Herói do Trabalho Socialista”, as condecorações, começando pela “Ordem de Lênin” e terminando pelas medalhas; e por outro lado, o decreto com o qual se introduz a aplicação do elemento punitivo para fortalecer a disciplina do trabalho. Mas no fundo, trata-se de duas medidas do mesmo gênero. Ou melhor, são medidas encaminhadas à consecução dos mesmos resultados.
Ao estimular e premiar os melhores representantes do trabalho socialista, de uma parte, e ao castigar os desorganizadores da produção, de outra, o Partido e o Poder Soviético demonstram com isso qual é a orientação que se deve dar à educação comunista dos trabalhadores da URSS.
Camaradas, provavelmente são poucos entre vós os que trabalharam nas fábricas antes da Revolução. Cada ano que passa, resta um número menor dessas pessoas entre nós. Por isso cabe supor que não conheceis muito bem qual era a atitude com o trabalho nos velhos tempos pré-revolucionários. Mas, infelizmente, essa atitude ainda se faz sentir entre nós com bastante fôrça.
Naquela época, nós, os revolucionários, não apreciávamos muito os velhos operários, bons especialistas, que tinham permanecido trabalhando na fábrica durante 40 anos. E tratava-se de operários qualificados, conhecedores de seu ofício, verdadeiros paladinos da disciplina no trabalho, ao qual nunca faltavam. Quando surgia alguma greve, era preciso empurrá-los à fôrça para fora da fábrica, pois não se atreviam a abandonar o trabalho por conta própria, temerosos de abalar as boas relações que tinham com seus chefes. Naqueles velhos tempos não apreciávamos esses operários. Por que? Porque se esfalfavam para os capitalistas.
Muito diferente é a situação de agora, com o socialismo. Hoje em dia, esses homens que passaram 40 anos trabalhando na fábrica, que constituem um modelo de disciplina no trabalho, que são conhecedores do seu ofício e cuja produtividade no trabalho é muito elevada, esses homens nós os promovemos, os condecoramos com ordens e medalhas, os honramos e os premiamos como os melhores cidadãos soviéticos.
Aqui tendes, diga-se de passagem, um exemplo concreto de dialética. Antes negávamos essa atitude para com o trabalho. Agora “negamos” essa “negação”. Resulta, como vedes, uma “negação da negação”, uma afirmação da atitude socialista para com o trabalho.
Por que modificamos radicalmente nosso critério acerca desses trabalhadores? Por que os consideramos agora como os cidadãos mais úteis e de mais valor para a União Soviética? Porque ocupam as posições de vanguarda em nossa luta de classes, luta que chegou ao grau superior de seu desenvolvimento. Pois não se deve entender a luta de classes só no sentido de uma luta na frente, com as armas na mão. Não, a luta de classes segue agora por outros caminhos. E a luta pela máxima produtividade do trabalho é, nos momentos atuais, um dos caminhos principais da luta de classes. Se nos tempos anteriores ao regime soviético alguém trabalhava bem, ajudava com isso objetivamente o capitalismo, apertava ainda mais as cadeias de sua própria escravidão e as da escravidão da classe operária em seu conjunto. Mas agora, na sociedade socialista, se o homem trabalha bem, coloca-se por este mesmo fato ao lado do socialismo, e com suas conquistas, além de desbravar o caminho que conduz ao comunismo, rompe também as cadeias da escravidão do proletáriado mundial. É um combatente ativo pela causa do comunismo.
É muito o que temos conseguido quanto à elevação da produtividade do trabalho em nosso país? Eu não diria que neste aspecto temos conseguido muito grandes resultados. Teoricamente se considera que a produtividade do trabalho socialista deve superar em muito a do trabalho no regime capitalista. Que acha você, camarada Stcherbákov
(1), é ou não é assim? (Stcherbákov: “É isso mesmo, é isso mesmo”. Animação na sala).Mas, e na prática? Na prática ainda não alcançamos a mais alta produtividade do trabalho que existe na Europa, sem referir-nos já aos Estados Unidos. Por conseguinte, temos que empenhar-nos ainda mais em conseguir maior produtividade do trabalho. A elevação da produtividade do trabalho nos permitirá ver mais claramente o perfil da futura sociedade comunista.
Pois bem, camaradas, uma produtividade maior do trabalho não só significa uma quantidade maior, mas também melhor qualidade da produção. Há entre nós pessoas inclinadas a considerar o comunismo de maneira abstrata, sem dar a Este conceito um conteúdo concreto. Mas, que significa o comunismo? Significa produzir o mais possível e da melhor qualidade possível. E ao dizê-lo não me refiro somente à produção do trabalho físico mas também à do trabalho intelectual, à produção dos engenheiros, arquitetos, escritores, professores, médicos, artistas, pintores, músicos, cantores, etc.
Devemos dizer abertamente que estamos muito descontentes com a qualidade de muitos de nossos produtos. E é característico o fato de que todos nós praguejamos quando nos entregam algum objeto de má qualidade; mas ao mesmo tempo nós mesmos não nos pomos a meditar em como são os produtos que outros recebem de nossas mãos. Em resumo, cada um de nós quer que haja de tudo em abundância e que seja de boa qualidade. Mas eu vos pergunto: como vai se conseguir isso se cada um não procura em seu posto trabalhar mais e melhor? Devemos, duma vez, meter em nossa cabeça essa velha verdade que diz: do que semeares, colherás.
E tampouco aqui, no terreno da luta pela qualidade da produção, nos limitamos apenas às medidas de estímulo. Como sabeis, o decreto do Presídium do Soviet Supremo da URSS, publicado a 10 de julho de 1940, estabelece que
“a produção de artigos de má qualidade ou incompletos, e a produção de artigos violando os padrões obrigatórios, constitui um delito contra o Estado equivalente à sabotagem”.
Os diretores, engenheiros-chefes e os chefes das seções de controle técnico das empresas industriais, que sejam responsáveis pela produção de artigos de má qualidade ou incompletos, serão entregues aos tribunais, que lhes aplicarão penas de reclusão de 5 a 8 anos.
Nem é preciso dizer que este decreto afeta em cheio certas pessoas e lhes faz sentir duramente sua culpabilidade na produção de artigos de má qualidade Mas, ao mesmo tempo, proporciona aos dirigentes das empresas uma arma poderosa para lutar contra a prejudicial influência de alguns que os cercam. Pois, como costumavam raciocinar muitos deles? Raciocinavam assim: para que vamos armar escândalos, turvar nossas relações com as organizações sociais, com os camaradas, etc., se no final de contas passarão na massa de artigos os de fabricação defeituosa? E com efeito, passavam. Essa atitude com a produção defeituosa lançou raízes profundas em nossa produção.
E são precisamente essas raízes que temos que cortar, destruir. Devemos fazê-lo no interesse da sociedade socialista e de cada um de nós em particular. Das duas uma: ou edificamos o comunismo, ou só falamos do comunismo, enquanto avançamos para ele pachorrentamente — se é que podemos expressar-nos assim — espreguiçando-nos e bocejando. Mas lembrai-vos de que avançar assim para o comunismo é muito arriscado, que assim se pode atrasar demasiado a passagem para o comunismo.
Falar do comunismo e ao mesmo tempo não relacionar a questão de modo concreto e material com problemas dum interesse tão palpitante como a qualidade da produção, é carregar água numa peneira.
Lembro-me como se fosse agora, mas o que vou contar-vos ocorreu há 40 anos, ou talvez 39 ou 38; como vedes a antiguidade de minhas recordações gira em torno dos 40 anos. (Risos.) Em nossa organização clandestina surgiu a seguinte discussão: Deve ou não deve o operário revolucionário fazer bem as coisas, isto é, preocupar-se com a qualidade de sua produção?” Uns diziam: “Não podemos, organicamente não podemos deixar que saia de nossas mãos um objeto mal feito; é algo que nos repugna, que rebaixa nossa dignidade de homens”. Outros, pelo contrário, diziam: “Não é assunto nosso a qualidade da produção. Isto é problema dos capitalistas. Nós trabalhamos para eles e de todas as formas eles nos obrigam a fazer bem as coisas. E na medida em que os capitalistas nos obriguem — diziam — faremos bem as coisas. Mas não devemos ostentar nossa iniciativa, não devemos pôr demasiado zelo no trabalho”.
Como vedes, camaradas, inclusive antes da Revolução, nos tempos do capitalismo, uma parte dos operários que lutavam contra os capitalistas considerava que não podia fazer mal as coisas; era algo que lhes repugnava, como se lhes pesasse na consciência. E em nossas condições, na sociedade socialista, quando não trabalhamos para os capitalistas, mas para nós mesmos, acaso repugna a todos produzir objetos mal feitos, acaso lhes pesa na consciência? Infelizmente não podemos dizer que seja assim. Não obstante, seria muito melhor que os homens sentissem mais remorsos, que sentissem maior repugnância em produzir artigos de má qualidade.
E quando falamos de educação comunista, isto quer dizer antes de tudo que é preciso inculcar na consciência dos trabalhadores a ideia de que devem realizar seu trabalho pelo menos com um minimo de escrupulosidade. Temos que inculcar-lhes a ideia de que quem se considera um
bolchevique ou simplesmente um honrado cidadão soviético, deve produzir com um mínimo de escrupulosidade, de modo que seus artigos sejam de boa qualidade.
Assim, pois, a luta pelo comunismo é a luta por uma maior produtividade do trabalho, tanto no que se refere à quantidade como à qualidade da produção. Essa é a primeira das tese fundamentais sobre a educação comunista dos trabalhadores da URSS.
IV
“Todo cidadão da URSS é obrigado a salvaguardar e consolidar a propriedade comum, socialista, como base sagrada e inviolável do regime soviético, como manancial da riqueza e do poderio da Pátria, como fonte duma vida acomodada e culta para todos os trabalhadores.
As pessoas que atentarem contra a propriedade comum, socialista, são inimigas do povo”.
Por seu valor intrínseco, a questão de salvaguardar e consolidar a propriedade comum é uma questão de maior importância do que aparenta exteriormente. A atitude cuidadosa para com a propriedade comum é um traço comunista. Tenho a impressão de que na história da humanidade não existiu uma sociedade mais cuidadosa que a comunista. E é natural, pois somente na sociedade comunista os recursos se encontram nas mãos dos produtores que dispõe deles. Não creio que haja especial necessidade de demonstrar que o produtor é mais econômico no gastar que o explorador ou o usurpador de bens alheios.
A história não habituou o povo a ser cuidadoso com a propriedade comum; ao contrário, sempre foram muitos os que gostam de dilapidá-la. O peculato constituía um dos traços característicos do velho sistema de governo; o erário público era uma vaca leiteira para os funcionários. Compreende-se que tal ordem de coisas fomentasse a incúria até em relação aos bens pessoais e sua dilapidação, sendo que a atitude negligente para com os bens comuns se estendia de alto a baixo.
Mas esta depredação do patrimônio nacional e do trabalho humano que observávamos no passado é, apenas, uma travessura infantil se a comparamos com a maneira pela qual se esbanja o trabalho humano na sociedade capitalista contemporânea. Podemos dizer sem medo de errar que na atualidade se joga fora milhões de jornadas de trabalho com o fim de destruir o trabalho anterior. E quantos valiosíssimos dons da natureza, tão limitados no mundo, estão sendo destruídos! Somente por esse delito de lesa-humanidade, o capitalismo merece ser destruído o quanto antes.
No balanço geral da produção do Estado, a economia é uma das parcelas no haver do patrimônio nacional. E essa parcela tem que aumentar de ano para ano como resultado da elevação de nosso nível cultural.
Camaradas, o artigo 131 da
Constituição nos proporciona abundantíssimo material para a educação comunista. Trata-se de um artigo dirigido contra a concepção burguesa, que diz: “Esta é minha casa e não quero saber de mais nada. Em meu refúgio antiaéreo não deixarei entrar ninguém”.. esse artigo nos obriga a cuidar da propriedade comum, a colocar os interesses comuns acima dos interesses individuais, pois só na coletividade, só na sociedade socialista é que fica verdadeiramente salvaguardada a situação de cada um.
Já no primeiro ano de existência do Poder Soviético,
Lênin dizia:
“Administra com cuidado e escrupulosamente o dinheiro, administra economicamente, abandona a preguiça, não roubes, observa a maior disciplina no trabalho: estas são precisamente as palavras de ordem que, ridicularizadas com razão pelo proletariado revolucionário quando a burguesia encobria com elas seu domínio como classe exploradora, se transformam hoje em dia, depois da derrubada da burguesia, nas palavras de ordem principais e próprias do momento”.
E quanto aos ladrões, os dilapidadores da propriedade comum, os velhacos e demais “depositários das tradições do capitalismo”, contra eles devemos dirigir as medidas de repressão. Para esses fins servem em particular a disposição adotada a 7 de agosto de 1932 pelo Comitê Executivo Central e o Conselho de Comissários do Povo da URSS “Sobre a salvaguarda dos bens das empresas do Estado, dos
kolkhozes e das cooperativas e a consolidação da propriedade comum (socialista)” e do decreto do Presídium do Soviet Supremo da URSS de 10 de agosto de 1940 “Sobre a responsabilidade criminal pelos pequenos furtos na produção e os atos de má conduta”.
Portanto, camaradas, primeiro devemos aprender a trabalhar de acordo com a nossa capacidade, a cuidar dos bens comuns; e quando tivermos produzido bastante e aprendido a cuidar dos frutos de nosso trabalho, então poderemos proporcionar de tudo, de acordo com as necessidades.
Esta é outra das partes integrantes da educação comunista.
V
O estímulo do amor à Pátria, à Pátria socialista, estímulo do patriotismo soviético é também um elemento indispensável da educação comunista.
A palavra “patriota” apareceu pela primeira vez durante a revolução francesa de 1789-1793. Naquela época chamavam-se República, em oposição aos traidores, aos monarquistas que tinham traído a Pátria.
Mas, mais tarde, esse termo foi utilizado em proveito de seus fins egoístas pelos reacionários e pelas castas superiores que se encontravam no Poder. Por isso, tanto na Europa como na Rússia tzarista, as pessoas mais honradas que se desvelavam pelas necessidades do povo adotaram sempre uma atitude de desconfiança contra a palavra “patriotismo”, na qual viam uma expressão do chovinismo nacional e, da infundada soberba das camadas governantes. Finalmente, sob a bandeira do patriotismo os sátrapas tzaristas saqueavam os povos anexados.
As
centúrias negras monopolizaram o “patriotismo”, demonstrando seus “sentimentos patrióticos” com pogromos de rua e espancando os operários, os intelectuais e os judeus. E em geral, em torno desse “patriotismo” agruparam-se então muitos elementos suspeitos e aventureiros procedentes dos rebotalhos da sociedade.
A palavra “patriotismo” ficou envilecida aos olhos do povo. Uma pessoa honrada não podia incluir-se entre os “patriotas”.
Os povos que tinham sido incorporados à Rússia, oprimidos, explorados, despojados e escarnecidos a cada passo por funcionários e colonizadores, odiavam naturalmente o Estado russo.
Como contrapartida ao “patriotismo” dos cavaleiros do knut
(2) e do garrote, ia-se desenvolvendo com rapidez crescente um movimento progressista cujo gume era dirigido contra a autocracia.
De um modo geral — a luta das forças progressistas contra a reação abarcou a literatura, a música e a pintura, onde, pelo menos com alusões, se podia exprimir a repulsa à realidade daquela época. Com o passar do tempo, pouco a pouco foram-se incorporando a essa luta as camadas democráticas da população, graças ao que ela adquiria um caráter mais radical. Este processo formava e agrupava os adversários da autocracia, os adversários da chamada Rússia oficial. Ao mesmo tempo, ia criando o baluarte nacional de um grande povo, baluarte constituído pelos seus melhores representantes. Apareceu toda uma plêiade de escritores, críticos e publicistas geniais dotados de grande talento, que ergueram muito alto nossa literatura e a incorporaram ao patrimônio da literatura mundial. E isto não ocorreu somente com a literatura, mas também a música, a pintura e as ciências começaram a destacar luminosos representantes na qualidade de verdadeiros patriotas da cultura nacional russa.
Estes homens, zelosos de sua honra, de sua dignidade e de sua reputação social, apartavam-se resolutamente desse “patriotismo” oficial e mesquinho. Para eles acima de tudo estava a tarefa de servir seu próprio povo e despertar nele um verdadeiro patriotismo. E não poupavam suas fôrças nem seu talento em benefício desse grande objetivo. Seus contemporâneos e as gerações seguintes aprenderam com eles, seguiram seu exemplo e se contagiaram de seu elevado patriotismo. A atividade profundamente patriótica desses homens encheu grande número de atraentes e brilhantes páginas da história do povo russo. E ainda que não gozassem das simpatias da Rússia oficial, em troca o povo os cercava do respeito de que se tinham tornado credores e sempre venerou e continuará venerando sua lembrança luminosa.
E foi esse processo de luta das fôrças do progresso contra as fôrças da reação, esse processo de crescimento e consolidação dos valores culturais que permitiu que pelo menos os elementos mais conscientes das nacionalidades oprimidas pudessem ver a outra Rússia, a Rússia nobre, amante da liberdade, inimiga da opressão, culta, dotada de talento e que contribui para desenvolver os conhecimentos entre as grandes massas da população. O movimento operário revolucionário que se tinha desencadeado, colocou na ordem do dia, como tarefa do momento, a de agrupar de verdade os proletários e trabalhadores de todas as nacionalidades do império russo em sua luta contra o tzarismo e o capitalismo. Os esforços de
Lênin e
Stálinpor criar um partido da classe operária para toda a Rússia, sem o qual era inconcebível a emancipação do povo russo e das nacionalidades oprimidas, a incansável prédica da política nacional leninista-stalinista, a luta dos
bolcheviques contra qualquer manifestação de chovinismo de grande potência e do nacionalismo local, tudo isso contribuiu para estreitar os laços entre as nacionalidades oprimidas e o povo russo, obrigou os elementos mais conscientes daquelas a conhecer a literatura, a ciência e a arte russas, a conhecer os lutadores revolucionários russos e com isso os ia incorporando à cultura russa, os convertia em partidários da luta comum e conjunta, isto é, em pessoas cujos pensamentos se estendiam já a toda a Rússia.
A pregação do patriotismo soviético não pode fazer-se de maneira isolada, desvinculando-a do passado de nosso povo. Essa prédica deve estar cheia de orgulho patriótico pelas façanhas de nosso povo, pois o patriotismo soviético é o herdeiro direto da obra criadora de nosso antepassados, que impulsionaram o desenvolvimento de nosso povo.
A vida soviética o ilustra com assombrosa clareza. Basta assinalar apenas um fato: o entusiasmo com que os povos emancipados reavivam em sua memória as imagens de seus personagens épicos e de seus heróis históricos. Esses heróis são representados em suas melhores produções artísticas, que logo levam para exibir em Moscou, coração das repúblicas soviéticas, como se cada um deles quisesse dizer a todos os povos da URSS: Olhai, não sou um membro da grande união dos povos por favor de alguém, não sou uma pessoa sem origem, nem família; aqui tendes minha genealogia da qual me orgulho e quero que vós, meus irmãos no trabalho e na defesa dos melhores ideais da humanidade, a admireis!
Por conseguinte, o patriotismo soviético tem suas origens em um remoto passado, a partir da épica popular: o patriotismo soviético se nutre de tudo o que há de melhor do povo e considera como a maior das honras a salvaguarda de todas as suas conquistas.
A grande Revolução proletária não fez somente grandes destruições; ela marca também o começo de um trabalho criador de proporções nunca vistas. Ao mesmo tempo, a Revolução passou como um poderoso furacão purificador pelas cabeças de dezenas de milhões de pessoas, dando-lhes ânimo e confiança em suas próprias fôrças. Essas pessoas sentem-se agora como se fossem heróis legendários capazes de vencer a todos os inimigos das massas trabalhadoras.
E já surgiu a épica soviética que ligou a arte popular de nossa época ao fio da arte popular de um passado remoto, cortado pelo capitalismo, inimigo deste aspecto da produção espiritual. O processo da transformação socialista da sociedade pôs em relevo grande quantidade de temas atraentes e ricos de conteúdo, dignos do pincel de grandes artistas. O povo já vai selecionando os melhores elementos desses temas e pouco a pouco vai traçando esboços esparsos para os poemas épicos desta grande época e de seus grandes heróis, como
Lênin e
Stálin.
Nossos literatos e artistas não devem ficar atrás do povo, pois jamais puderam dispor de um material tão abundante nem tão grato como em nossa época. Só agora é que têm possibilidades ilimitadas de servir a seu povo e de inculcar ás massas profundos sentimentos patrióticos baseados nas grandes façanhas das gerações atuais.
Parece-me que Maiakovski constitui um excelente exemplo de como se deve servir ao povo soviético. Maiakovski considerava-se um combatente da Revolução, e em realidade, a natureza de sua arte o credencia como tal. Sua aspiração era a de fundir com o povo revolucionário, não só o conteúdo, mas também a forma de sua produção poética, e os historiadores do futuro dirão com toda a certeza que suas obras pertenceram à grande época em que as relações entre os homens se transformaram por completo. Por isso considero que Maiakovski, ao dirigir-se às gerações futuras, tinha pleno direito de dizer:
“Eu chegarei até vós
em um longínquo comunista,
mas não
como um herói legendário cantado por Essênin.
Meu canto chegará
através do lombo dos séculos
e sobre as cabeças
dos poetas e dos governos.
Meu canto chegará, mas não como uma flecha
em uma caçada de Cupido, não como chega
ao numismático a moeda manchada, nem como a luz de uma estrela apagada.
Meu canto,
com o trabalho,
romperá a multidão dos anos e chegará,
ponderável,
rude,
visível, como a nossos dias
chegou o aqueduto construído
pelos escravos de Roma”.
Nesta orgulhosa declaração percebemos a voz majestosa de nossa época, de nossas gerações que transformam o mundo sobre bases novas.
Camaradas, a história nos incumbiu de uma tarefa honrosa e de responsabilidade: levar nossa luta de classes ao triunfo total do comunismo.
“Devemos marchar para frente de tal maneira que a classe operaria do mundo inteiro possa dizer ao olhar-nos: “Eis ali o meu destacamento de vanguarda, minha brigada de choque, meu Poder operário; eis ali minha Pátria..." (
Stálin).
Mas para isso devemos educar a todos os trabalhadores da URSS num espírito de ardente patriotismo, de amor sem limites à sua Pátria. E não me refiro a um amor abstrato e platônico, mas a um amor impetuoso, ativo, apaixonado, indômito; um patriotismo sem misericórdia para com os inimigos e que não se detenha diante de nenhuma espécie de sacrifícios em holocausto à Pátria.
Aí tendes a terceira tarefa fundamental da educação comunista dos trabalhadores da URSS.
VI
Julgo necessário deter-me ainda na questão do espírito coletivo. Não há necessidade de demonstrar dum modo especial que a formação do espírito coletivo deve ocupar um lugar de destaque na educação comunista. Não me refiro aqui aos fundamentos teóricos do espírito coletivo, mas à introdução de hábitos sociais na produção e na vida cotidiana, à criação de condições nas quais o espírito coletivo constitua parte integrante de nossos costumes, de nossas normas de conduta, para que nossos atos sejam não só meditados e tenham um caráter consciente, como se produzam de maneira instintiva e orgânica. Esclarecerei minha ideia com alguns exemplos.
Os que tenham lido “A América de um pavimento”, de Ilf e Petrov, recordarão com toda a certeza suas interessantes observações durante a viagem.
Se acontece alguma desgraça a algum dos viajantes, não lhe faltará a ajuda voluntária dos outros. E é característico que os norte-americanos, apesar de seu lema: “o tempo é ouro”, não regateiem seu tempo em tais casos. A necessidade de prestar toda a espécie de ajuda se subentende como um dever social.
Outro exemplo. Na antiga aldeia russa, na época de maior atividade, quando cada família se apressava em adiantar-se às demais na colheita, se alguma camponesa, geralmente só no trabalho e com muitos filhos, se atrasava na colheita, os demais camponeses, ao passar ao seu lado de regresso do trabalho, tinham por costume prestar-lhe ajuda coletiva.
Aí tendes, camaradas, em que sentido entendo a educação do espírito coletivo como norma habitual dos homens. Nos tempos antigos esses costumes se iam criando espontaneamente. Mas eu me refiro à necessidade de cultivá-los no povo dum modo consciente.
O espírito coletivo não deve. ser confundido com o espírito de manada. Assim, por exemplo, quando nos tempos antigos uma multidão de camponeses espancava um ladrão de cavalos, ou uma turba de credores de um banco em falência, furiosa, quebrava os vidros dos escritórios do banco, em meu entender essas ações não podiam ser consideradas como manifestações de espírito coletivo. Eram manifestações que tinham certo caráter de manada. Pelo contrário, o espírito coletivo engendra sempre a ação racional.
Na vida prática de nossa sociedade, o espírito coletivo desempenha um grande papel, pois se baseia no coletivismo. Nós opomos à sociedade capitalista o coletivismo-comunismo, pois estamos convencidos de sua enorme superioridade. Do êxito que tenhamos na empresa de levar à produção e à vida social e individual os hábitos coletivos, depende também em grande medida o êxito da edificação comunista.
O espírito coletivo no trabalho, a cooperação no trabalho é a base da produção. No que tange à indústria socialista, isto não requer uma demonstração especial. É algo evidente, que os operários e quem quer que esteja ligado à produção fabril podem compreender com facilidade. Se na sociedade capitalista o trabalho de qualquer proletário se despersonaliza por completo e, ao ser materializado num objeto, desaparece do campo visual não só do operário, mas também do fabricante, ao qual interessa unicamente o lucro, pelo contrário, em nosso país, o trabalho materializado está à vista do operário, pois não só se manifesta no lugar de sua produção, como também no consumo, no uso. Por conseguinte, qualquer produtor de perspicácia mediana pode ver os resultados de seu trabalho. Não obstante, com nosso trabalho educativo devemos ampliar e aprofundar a capacidade de cada operário de perceber sua participação individual no trabalho comum, no trabalho coletivo.
Mas, onde sobretudo devemos concentrar nossa atenção na educação do esprito coletivo é no campo, na aldeia
kolkhoziana. A aldeia
kolkhoziana está passando por uma grande escola de espírito coletivo sem possuir ao menos hábitos de trabalho coletivo. Embora no passado as palavras “sociedade” e “interesses sociais” se pronunciassem às vezes nas assembleias rurais, no fundo seu conteúdo coletivo era muito escasso. Sob a capa das palavras “interesses sociais” ocultavam-se os assuntos privados dos
kulaks.
Quando os camponeses tomaram o caminho da coletivização, difíceis problemas ergueram-se diante deles: em oposição a todo o passado, deviam romper, ou melhor, deviam orientar sua psicologia num sentido diametralmente oposto, deviam passar do trabalho para si ao trabalho para todos. Não se trata de um processo fácil e ele só pôde desenvolver-se com êxito sob uma pressão considerável e com a ajuda do Estado.
A passagem do trabalho individual e simples ao trabalho coletivo, mais elevado e mais complexo, exige das pessoas muito mais capacidade de organização. E vemos que, enquanto se vai eliminando o espírito de propriedade privada e se acumulam nos camponeses
kolkhozianos hábitos coletivistas, reúne-se também experiência organizadora na aplicação dos métodos coletivos de trabalho.
Essas são as condições em que se vai realizando a educação comunista no campo.
É evidente que os simples apelos ao coletivismo, que a simples propaganda de suas vantagens em comparação com o trabalho individual já não bastam. O propagandista, o agitador e o educador devem indicar aos
kolkhozianosmétodos de trabalho mais eficazes, ou, pelo menos, citar-lhes exemplos concretos de trabalho eficaz, analisando as causas de sua eficácia.
Tanto é assim, que inclusive um trabalho tão complicado como a educação do espírito coletivo, para conseguir sua máxima eficácia, deve adaptar-se ao trabalho prático. Em outras palavras, a educação do espírito coletivo deve fazer-se de maneira concreta. O educador, ao mesmo tempo que explica o sentido de tal ou qual processo prático,, vai adquirindo por sua vez materiais práticos para seu próprio desenvolvimento teórico. Isto, diga-se de passagem, nos serve de exemplo palpável da unidade da teoria com a prática.
Aí tendes o quarto elemento da educação comunista.
VII
A cultura é um fator que aumenta a fecundidade de qualquer trabalho positivo. Quanto mais complexo e qualificado é determinado trabalho, maior cultura se requer. A cultura nos é tão necessária como o ar, necessitamo-la em toda a sua amplitude, isto é, desde a cultura elementar, literalmente indispensável a cada homem, até a chamada grande cultura. Diz-se com efeito: um homem de grande cultura.
A cultura constitui certo índice do grau de desenvolvimento da pessoa. E como as pessoas desenvolvidas são objeto de uma atenção preferente, alguns se dedicam a copiar os aspectos externos da cultura. Dessa gente costumava-se dizer: - esse enfeita-se com penas de pavão. Não obstante, minha opinião é que esse juízo é errado e prejudicial ao desenvolvimento da cultura. É claro que, em sua grande maioria, os homens se apropriam primeiro dos aspectos externos. Mas na medida em que o homem trata de adquirir os aspectos externos da cultura, estes contribuem por sua vez para elevar o nível geral de sua cultura.
Por que experimentamos, agora, com particular agudeza, a necessidade de elevar o nível cultural geral? Nestes vinte e três anos de existência do regime soviético nossa economia fez consideráveis progressos. Subiu muito o nível técnico da produção, as máquinas se tornaram mais complicadas e reclamam um trato mais atento, mais esmerado. Se passarmos em revista, um após outro, os diversos ramos da indústria, em todas as partes ouviremos o mesmo clamor: necessitamos de trabalhadores mais bem preparados. Paralelamente compreende-se que também nos escritórios as exigências tenham crescido em igual medida.
O campo
kolkhoziano, por sua vez, apresenta uma procura colossal de homens de elevado nível cultural. O tratorista, o condutor da máquina combinada, o mecânico, o agrônomo, o zootécnico, além dos conhecimentos de sua especialidade, devem possuir pelo menos uma cultura elementar. Tomemos outras especialidades, mesmo que seja a de moco de estrebaria. Um camponês não terá grandes dificuldades para ser palafreneiro quando se tratar de um ou dois cavalos. Mas quando na cavalariça há 20 ou 40 cavalos, então já se requer uma certa experiência organizativa e certa cultura. O mesmo ocorre nos demais ramos da economia
kolkhoziana. A cultura é indispensável para continuar avançando.
Não será demais recordar também as necessidades da defesa do país. Neste caso as necessidades culturais não crescem dia a dia, mas de hora em hora.
Além de tudo o que foi indicado, é também cultura o esmero na produção e na maneira de viver.
Imaginai, camaradas, um engenheiro, um bom engenheiro. É uma pessoa instruída e que estudou muito. Dirige uma fábrica e se considera um trabalhador valioso. Mas se passardes pelas oficinas de sua fábrica vos exporeis a quebrar a cabeça a cada passo! (Risos). Pode-se chamar a isso de cultura? Se um engenheiro desse tipo não presta atenção a tais coisas, quer dizer que ainda lhe falta a cultura mais elementar, quer dizer que ainda não tem o apego devido à sua produção nem à sua fábrica.
Entendo a luta pela cultura no sentido mais amplo dessa expressão, incluindo, por exemplo, a preocupação para que as torneiras não gotejem, para que em Moscou haja menos percevejos, nas casas, etc. Pois os percevejos são algo intolerável, são uma vergonha, e enquanto isso ocorre tanta gente pergunta: como deve ser o homem da época do comunismo, quais deverão ser as suas qualidades distintivas? (Risos). Há quem se dedique a falar pelos cotovelos sobre a educação da infância, porém que em suas casas organize autênticos viveiros de percevejos. Mas, que é isso? Como dizer que tais pessoas são cultas? Trata-se duns amolecidos aristocratas, restos da antiga sociedade russa. (Risos).
★ ★ ★
Camaradas, ainda poderia deter-me em toda uma série de questões relativas à educação comunista, como, por exemplo, o papel do Partido, os Sindicatos, o
Komsomol, as organizações desportivas, os centros de ensino superior, as escolas, a literatura, a arte, o cinema, o teatro, a família, etc. Mas isso nos levaria demasiado longe e deixaríamos à margem de nosso campo visual o mais importante, o que determina as tarefas e o conteúdo comunista dos trabalhadores da URSS na presente etapa da luta de classes.
Julgo serem os marcos fundamentais a que acabo de referir-me os que devem determinar a atitude a ser adotada para com a educação comunista por todos os nossos organismos e instituições e por todos os que tenham relação direta com esta questão. Devem resolver todas as questões de caráter prático do ponto de vista do conteúdo principal e do objetivo básico da educação comunista.
Se nossa educação tem um excelente aspecto exterior, mas é abstrata, isto é, não está ligada a objetivos concretos, não está materialmente ligada à luta pelo desenvolvimento do Estado socialista e pela consolidação de suas posições na atual luta de classes, o que obtivermos será uma paródia da educação.
Dada a complexa situação internacional do momento, nosso povo deve preparar-se, mobilizar-se e aguçar como nunca sua vigilância, para que nosso Estado socialista esteja preparado para enfrentar qualquer surpresa ou eventualidade. Este deve ser o ponto central da atividade de todas as nossas organizações sociais, da literatura, da arte, do cinema, do teatro, etc. Assim será, camaradas, que cumpriremos de verdade os desejos do Partido, as indicações do camarada
Stálin e os preceitos de
Lênin no que respeita à educação comunista das massas no atual período histórico.
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