23 de maio de 2010

A cada dia, um professor se licencia por dois anos


"Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso."
Não era assim.
"Eu era bem calmo", afirma o professor de história Carlos, 42, , referindo-se ao período anterior a 2004, quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista.
Aprovado um ano depois em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona sul da capital. Passados três anos, obteve uma licença médica, que se renova até hoje, sob o diagnóstico de disforia --ansiedade, depressão e inquietude.
Carlos espera nova perícia. Quer se tornar readaptado --situação de servidores com graves problemas de saúde, que ficam ao menos dois anos afastados da sala de aula. Fazem atividades administrativas na secretaria e na biblioteca, por exemplo.
De janeiro até a última sexta-feira, 194 docentes (mais de um por dia) da rede paulista foram readaptados, aponta levantamento da Folha no "Diário Oficial".
POR QUE ADOECEM
Pesquisadores apontam duas razões para tantas licenças. A primeira é a concepção da escola, que requer para as aulas estudantes quietos e enfileirados. "Isso não existe mais. Esta geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por não conseguir a atenção deles", diz o sociólogo Rudá Ricci, que faz pesquisas com educadores de redes públicas do país, inclusive no município de São Paulo.
A outra razão são as condições de trabalho. Em geral, os professores dão aulas em classes com mais de 35 alunos, possuem muitas turmas e poucos recursos (não há, por exemplo, microfone). Estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Braudel e pelo programa Fulbright mostra que os docentes paulistas têm condições piores que os de Nova York.
Têm carga maior (33 horas semanais em sala, ante 25) e possuem mais alunos por sala (35 e 26, respectivamente).

A matéria descreve o contexto do funcionalismo da Educação em São Paulo, no entanto, retrata a realidade da educação no país.
Não obstante, temos aqui no município e no estado a realidade bem semelhante, assim como esse é o contexto brasileiro. Turmas lotadas, falta apoio pedagógico, alienação a um sistema falho e muitas vezes inoperante, leis ultrapassadas, projetos no papel, ausência de materiais ou recursos, uma diversidade gritante no ambiente escolar e inclusão só no papel.
Qual a solução adotada por alguns governos diante do caos em que se transformou a educação?
Dificultar o processo que gera as licenças médicas ou as readaptações. Esse método para alguns governos parece ser mais fácil do que propriamente trabalhar no sentido de reestruturar o sistema educacional.
É fato que as mudanças na conjuntura social aliadas à velocidade das inovações tecnológicas, bem como as transformações no papel e no modelo das famílias, têm desencadeado angústias e mudanças significativas no processo educativo, no entanto, as medidas ou mudanças no sistema de educação não tem acompanhado as mudanças sociais na mesma proporção, apenas atribuem às escolas e ao corpo docente uma série de competências diante das demandas. Talvez aí esteja a causa principal do quadro de doenças que acometem principalmente quem trabalha nas escolas.

Profª: Luciana

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