24 de junho de 2011

OS SINDICATOS E O ECONOMICISMO

O LENINISMO E AS NOSSAS TAREFAS

O leninismo triunfou, na sua época, através de uma longa luta política. Inicialmente, precisou vencer o economicismo - tendência oportunista então majoritária que se caracterizava por restringir o movimento operário à luta econômica, pois se opunha à luta de classes no seu sentido revolucionário.

Lênin afirmava que a luta econômica devia ser apenas o ponto de partida para a verdadeira luta de classes. Para isso, apoiava-se na tradição marxista:

“... que os atuais movimentos que reivindicam exclusivamente melhores salários e menos horas de trabalho a envolvem num círculo vicioso sem saída; que não são os baixos salários, mas o salário em si mesmo que constitui o mal fundamental do sistema”. “... que se aproxima a hora em que a classe operária, tendo compreendido que a luta por melhores salários e encurtamento da jornada de trabalho, assim como o conjunto das ações atuais dos sindicatos, não é um fim em si, mas um meio, um meio necessário e eficaz, mas somente um entre muitos outros para atingir um objetivo mais elevado, a abolição do próprio trabalho assalariado” (artigo de Engels no Labour Standard).

Segundo Lênin, se devia partir da experiência das massas para explicar o significado do capitalismo, conscientizá-las e organizá-las. Transformar os sindicatos em “escolas de socialismo”.

Vencida essa luta contra o economicismo, Lênin teve de enfrentar o reformismo menchevique e o reformismo europeu da social-democracia. Essa luta se deu em duas frentes, organizativa e programática. Precisou afirmar e construir o partido dos revolucionários profissionais contra o oportunismo organizativo que não distinguia partido e classe. Com relação ao sujeito social da revolução russa, defendeu a hegemonia do proletariado e dos camponeses pobres, que somente poderiam ter uma vitória completa através de uma insurreição popular. A isso se opunham os mencheviques, que delegavam a tarefa dirigente da revolução à burguesia liberal e secundarizavam a importância da insurreição. Por fim, enfrentou a capitulação da social-democracia européia diante da guerra imperialista.
Tarefas atuais

Comparadas com as tarefas daquela época, as nossas tarefas atuais são maiores. Aquela era a época do apogeu do capitalismo, esta é a da sua avançada degeneração. Naquele momento, a classe operária ainda se encontrava em desenvolvimento, bem como as suas lutas econômicas. Contrariamente, o longo período do parlamentarismo pacífico do século XIX minou o caráter revolucionário da social-democracia. Mas, apesar disso, as condições objetivas favoreciam a reconstrução das minorias revolucionárias que não haviam sucumbido à avalanche oportunista, sendo o bolchevismo a sua vanguarda.

Hoje, o oportunismo renasceu com mais força do que então, levando à maior crise de direção jamais vista. Esta se caracteriza por um economicismo ainda mais primário, pelo abandono dos métodos da luta de classes e pela negação do programa revolucionário em benefício de um programa burguês mascarado, na lógica de uma suposta revolução democrática. Politicamente é um estorvo para a revolução socialista.

Teoricamente, revisa todos os princípios do marxismo: o papel do proletariado, a importância do partido revolucionário, bem como os métodos e o programa. Capciosamente, tenta passar essa revisão como sendo o marxismo ou pela sua pretensa atualização. Ao mesmo tempo, lhe rende homenagem nos dias de festa. Esse revisionismo é conhecido como: mandelismo, lambertismo, morenismo, lorismo, altamirismo, entre outros.


É fácil identificá-los através de algumas das suas receitas políticas preferidas: revolução de fevereiro, governo operário e camponês, unidade pela unidade, exigências e denúncias, Assembléia Constituinte, Frente Única anti-imperialista.
Diante da hegemonia tão avassaladora desse oportunismo, da mesma forma que Lênin em 1910, pode-se dizer:
“Deve haver aí causas essenciais, residentes no regime econômico e no caráter da evolução de todos os países capitalistas, para engendrar constantemente esses desvios” (Revisionismo e anarquismo). Nesse sentido, apontamos duas causas objetivas principais: a decadência do capitalismo e as derrotas do proletariado.

O predomínio do stalinismo, transformou a maior vitória do proletariado - a revolução russa - na sua maior derrota. A consolidação e pujança do estado operário soviético - apesar do stalinismo - se voltou como uma avalanche contra as suas futuras vitórias. O imperialismo não poderia contar com um aliado mais eficiente, que levou à derrota, uma a uma, todas as revoluções futuras, com as exceções conhecidas. E o principal, conduziu à restauração do capitalismo a própria URSS. O proletariado internacional se ressente, até hoje, dessa imensa derrota, a qual, por ironia e não por acaso, foi saudada como uma vitória por grande parte do “trotskismo”.


Ao lado dessas derrotas e em conexão com elas, está a degeneração do capitalismo. O proletariado industrial não avança numericamente, recua. As grandes concentrações operárias diminuem. O desemprego estrutural coloca limites muito estreitos à luta econômica. Os sindicatos se integram ao Estado. A luta salarial tem poucas perspectivas e se restringe a alguns setores minoritários. A grande massa mais explorada não conta com qualquer organização. Esses fatores tornam mais difíceis a organização em geral e a do partido revolucionário, em particular.


Essas são “as causas essenciais” dessa epidemia de oportunismo, que não pode ser derrotado enquanto algumas delas não forem superadas. O oportunismo é o parasita da derrota, chafurda na sua lama. A degeneração do capitalismo é irreversível, mas as conseqüências dessas derrotas têm seus dias contados. A diminuição do proletariado industrial é compensada pelo aumento de novos setores proletários, menos concentrados, mas igualmente explorados. Estes são mais difíceis de organizar, mas muito explosivos quando despertam.


O capitalismo não pode se livrar das suas crises periódicas, que tem efeitos contraditórios sobre a luta de classes. Ao mesmo tempo em que dificultam as lutas econômicas, colocam na ordem do dia as lutas políticas gerais. A realidade tem demonstrado que tanto a degeneração capitalista, como as derrotas, não aplastaram definitivamente o proletariado internacional. Na atual crise - e antes dela - ele volta a levantar a cabeça: foram as revoltas contra o aumento dos preços dos alimentos em dezenas de países em 2008, as lutas do proletariado europeu - principalmente na França - e na América Latina - Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador, entre outras. Dessa forma, o proletariado mundial demonstra que está vivo. Está ainda muito longe de readquirir a antiga consciência de classe e a organização suficiente para questionar o capitalismo. Mas isso é um processo que está novamente em andamento.


Já não estamos no fundo do poço, mas os tempos de “vacas magras” ainda persistem. Estes ainda são os tempos do oportunismo, mas novos tempos se avizinham. Novas crises virão. Enquanto isso, devemos remar contra a maré confiando na capacidade do proletariado, coisa que o revisionismo não faz. Essa falta de confiança é o seu elemento, a sua razão de ser.
“Se as relações de forças desfavoráveis não permitem conservar as antigas posições políticas, deve-se, pelo menos, conservar as posições ideológicas, pois nelas se encontra a cara experiência do passado" (Bolchevismo e Stalinismo).

A nossa primeira tarefa é conservar “as posições ideológicas” do marxismo, sem nenhuma concessão. Faremos a crítica ao oportunismo hegemônico, a denúncia sistemática do capitalismo e a propaganda do programa da revolução socialista em todos os movimentos, inclusive, nos sindicatos. Ao mesmo tempo, não devemos descuidar do combate ao doutrinarismo de esquerda, que esquece as tarefas concretas em nome de reivindicações abstratas, a exemplo da greve geral, tomada como objetivo abstrato, não como método de luta. Desconsideram a conjuntura e quem a convoca. Um exemplo de como esse radicalismo aparente se transforma em conciliação foi o caso das mobilizações pró-Lula em 2007 contra a Emenda 3, que recebeu o apoio da santa aliança: CUT, oportunistas e doutrinários de esquerda.


Não queremos agradar a quem quer que seja nos campos do oportunismo, centrismo, doutrinarismo. Nos move uma única preocupação: a fidelidade às necessidades históricas do proletariado. Não bajulamos a este com atalhos oportunistas. Confiamos na sua unidade em torno do programa revolucionário.

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