Autor: André Maranhão Santos
Há quem repudie o marxismo, alegando sua crítica como “obsoleta e estreita”, dentre outros adjetivos. Decerto que diante do atual contexto em que vivemos, é necessário reavaliar muitos paradigmas dentro das análises do materialismo e da dialética. No entanto negar de todo o marxismo é negar a si mesmo a capacidade de luta de classes, um dos preceitos mais importantes para o exercício da História.
O sistema capitalista sofre mudanças cada vez mais excludentes, que rumam para modelos individuais imediatistas. O marxismo continua como um imprescindível crítico, perante o atual modelo econômico que encapa novas faces de adaptação em seu papel opressor. De fato, uma das razões para uma possível crise do marxismo é fruto da mudança do próprio capitalismo, o que exige a remodelagem de antigos conceitos sociológicos, quando temos como representantes do proletariado não os operários do final do século XIX, mas uma camada de professores e estagiários mal remunerados em condições adversas, com o sofrimento de ameaças, falta de material, longa jornada de trabalho e com direitos trabalhistas inexistentes, (no caso dos estagiários). A ação neoliberal, somada com algumas tendências mais recentes do pensamento social corrobora para o estabelecimento de modelos econômicos supérfluos e para a nulidade da crítica. “(...) determinadas posturas pós-modernas que ao negarem a razão histórico dialética, o devenir histórico e de elos de universalidade humana, acabam reificando o momentâneo, o transitório, o efêmero e a capilaridade do micro, do local e do circunstancial. A utopia, por este caminho, fica esmaecida e com ela, a ação política.” (SADER, GENTILI, 1999, pág: 16).
Portanto, podemos constatar vários processos decorrentes a partir da Educação, como a mercantilização[1] do ensino, que divide um papel de responsabilidade do Estado, contrariamente, separando as classes econômicas em diferentes instituições, que exigem cada vez mais investimento capital (por parte dos pais), para tornar o aluno mais um burocrata de um sistema tecnicista. Dá-se início a uma disputa sedenta por vantagens e espaço no consumismo desigual, oriundo do neoliberalismo. “Em outras palavras, não tem demasiado sentido falar da democracia em sua abstração, quando na realidade do que se trata é de examinar a forma, as condições e os limites da democratização em sociedades como a capitalista, que se fundam em princípios constitutivos que lhes são irreconciliavelmente antagônicos” (FRIGOTTO, 1995, pág: 68).
Rumando para a reprodução desse sistema, há um desequilíbrio financeiro entre as classes, adicionados à superpolução das grandes cidades, que congestionam a demanda de serviços e estabelecem o desemprego[2]. Mais uma vez os programas sociais não sanam outros males que se intensificam, como a violência, fome e miséria em países como o Brasil. Os governos de esquerda ainda almejam programas mais eficazes, mas que ainda esbarram numa contradição que é a prática assistencialista, haja vista a necessidade de projetos mais imediatos conforme a cobrança das classes mais baixas e a continuidade da burguesia[3] industrial como parte hegemônica da nossa sociedade.
Notas
[1] Sobre a mercantilização do ensino, há um notável fetichismo pela sua propriedade por parte do sistema capitalista. “(...) a questão do fetichismo da mercadoria é específica da nossa época, do capitalismo moderno. (LUKÁCS, 2003, pág: 194).
[2] “Agora a grave realidade do desumanizante desemprego assumiu caráter crônico, reconhecido até mesmo pelos defensores mais acríticos do capital como ‘desemprego estrutural’, sob a forma de autojustificação, como se ele nada tivesse que ver com a natureza perversa do seu adorado sistema.” (MÉSZÁROS, 2003, Pág: 22).
[3] “It has agglomerated population, centralized means of production, and has concentrated property in a few hands. The necessary consequence of this was political centralization” (MARX, ENGELS, 1969, pág: 13).
BIBLIOGRAFIA
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e Crise do Capitalismo Real. São Paulo, Cortez 1995.
LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe, Estudos Sobre a Dialética Marxista. São Paulo, Martins Fontes, 2003. Tradução Rodnei Nascimento.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. The Communist Manifesto. New York, International Publishers, 1969.
MÉSZÁROS, István. O Século XXI socialismo ou barbárie? São Paulo, Boitempo, 2003.
SADER, Emir. GENTILI, Pablo (orgs). Pós Neoliberalismo, As Políticas sociais e o Estado democrático. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
FONTE: http://andremaranhao.blogspot.com/2006/12/o-marxismo-e-educao.html
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