3 de abril de 2010

REPROVAÇÃO E EXCLUSÃO

" O aluno não vai à escola para tirar notas, vai para aprender, para crescer, para se desenvolver." Freinet, educador francês


Uma breve retrospectiva

No início do século XX, já era evidente que as escolas não poderiam continuar convivendo com relações pedagógicas tão autoritárias como as até então existentes, herdadas de modelos pedagógicos absolutamente ultrapassados.

O que elas pressupunham?

Que a criança não passava de um homúnculo com todas as habilidades e competências de um adulto sendo, portanto, responsável pelo seu processo de aprendizagem. Para essas velhas teorias, o centro da aprendizagem era o professor, o rei-sol , onisciente, e os alunos, passivos e mudos, deveriam gravitar ao seu redor. A disciplina em sala de aula deveria ser mantida a qualquer preço e os castigos físicos, a palmatória, a genuflexão sobre o milho,
bem como as humilhações psicológicas, as famosas orelhas de burro colocadas no aluno que ia mal, imitavam as relações autoritárias e anti-democráticas existentes entre o poder e os seus súditos, assim como entre pais e filhos. Este clima de terror era coroado com a famosa reprovação. O bom professor, pasmem, era aquele que reprovava muitos alunos e a escola, bem como o professor eram eximidos de qualquer responsabilidade pelo fracasso escolar. Esse comportamento punitivo chegava mesmo às raias do exagero de reprovar um aluno por um simples décimo, inviabilizando, muitas vezes, toda a vida escolar futura de um jovem ou de uma criança. Mais do que se sentir rei-sol, isto certamente consolidava no professor um sentimento quase divino de poder dispor, a seu bel prazer, do destino de seus alunos, que se tornavam joguetes nas mãos do acaso.

Um comentário:

  1. Aluno, Cliente de Professor
    Claudeci Ferreira de Andrade
    Não sei se sou mais um diabo no inferno ou se sou apenas um anjo do bem, acostumado com essa temperatura; hoje, no início do dia, recebi uns elogios exagerados, senti-me feliz, mas como alegria de pobre dura pouco, não posso me esquecer das precauções dos demônios. Apesar de crivado de "setas malignas", o que não tem nada que ver com o ser incompetente ou não, mas logo depois, já no final da tarde, chamei a atenção de um aluno do 8º ano, com cuidado e jeito; ele me ameaçou de denunciar à Secretaria de Educação! Quem ensinou para ele que os próprios do sistema não são unidos? Ficou claro que ele queria o direito de perturbar a aula e criar confusão na escola, pelo que entendi, ele alimentava a esperança de prevalecer, pois não se acanhou em assumir essa postura em público. Queria aparecer de qualquer forma. Fez tudo para afastar a atenção dos colegas da aula e conseguiu.
    Até eu um homem maduro, ou melhor, "podre"! Não me mostrei disposto a por fim a minha condição de bancarrota diante da classe. Fingi que não estava acontecendo nada e continuei tentando ensinar alguma coisa naquela aula. Qualquer professor, de alguns anos de experiência, faria o mesmo, porque este aluno veio treinado das séries anteriores, fizeram dele o que ele é agora, e em tantos outros aplicou a mesma fórmula e funcionou, deixando os atores da educação afastados do centro de si mesmo e do seus esforços próprios para retornar aos objetivos nobres do ensinar fácil.
    O poder repousa no aluno, sim, não em nós mesmos. O poder envolve o usufruto dos "favores obrigatórios"; mas, é mais do que assentimento a conteúdos didáticos. O poder estabelece-se no aluno em estar presente na escola, produzindo ou não, estando presente é o que importa e é louvado por isso. Ai de mim, se esse aluno deixasse de frequentar as aulas por minha causa. Mas, isso dói muito porque ainda me recuso fazer de mim mesmos aquilo que eles podem fazer. — não é pessoal – justificou ele – é que não gosto de Português.
    Parafraseando Rudyard Kipling, eu diria que o professor mais idiota pode disciplinar um sábio aluno. Mas, é preciso um professor extremamente sábio para disciplinar um aluno idiota. A autoridade de professor consiste em nos tornarmos inteiramente ausentes de nós mesmos e levar-nos de volta à autodesconfiança, induzindo-nos a total dependência dos alunos. Somos um com eles. Para não dizer definitivamente: o cliente sempre tem razão!

    Eu acho que o joguete aqui é o professor, na mão do aluno! kkkk

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